quinta-feira, 4 de junho de 2009

Artigo Indefinido – Ano 1 – Nº 36

No penúltimo Artigo Indefinido eu falei sobre as origens do “Big Brother”, e esse assunto retorna quando li a respeito do mais novo invento da Microsoft: o relógio Harry Potter - que tem esse nome em função do filme, no qual aparece algo semelhante. Em termos de aparência, o tal relógio (da Microsoft) pode ser considerado como simples. De fato, há até um certo apelo nostálgico em seu desenho. Na parte do mostrador há um círculo que tem marcado, ao longo do seu perímetro (onde constariam as horas) três faixas, onde estão escritos os termos: casa, trabalho e escola. Ao centro há outro círculo, em que nada consta. Ao chegar em casa, qualquer pessoa da família detentora do relógio olha para o mostrador, e identifica onde estão os demais familiares, já que suas fotos estarão alocadas nos espaços correspondentes ao local onde se encontram. Caso não estejam no trabalho, na escola ou em casa, suas fotos vão para o círculo central. Pelo que eu entendi, vai dar também para identificar se estão no trajeto de um local para o outro. Para que tudo isso ocorra, cada pessoa da família tem que ter um telefone celular, no qual será instalado um programa específico de comunicação. De início, para que o relógio funcione a contento, cada familiar se responsabiliza em teclar no telefone quando se encontrar nos locais específicos. Mas isso ocorre apenas uma vez. Depois disso, o relógio já estará apto a dedurar a localização de cada um. Claro que há um poderoso componente de segurança envolvido nessa história. É reconfortante para qualquer um chegar em casa e checar de imediato o destino dos demais familiares. Ao mesmo tempo, cada vez mais podemos dizer adeus à nossa privacidade. Já não bastam as câmeras em todos os cantos possíveis e até mesmo inimagináveis. O próximo passo, que não deve tardar, será a visualização mútua através do telefone celular. Aí cairão por terra uma avalanche de pequenas mentiras do cotidiano: “Querida, ainda estou na empresa, mas estou fora da minha mesa, por isso não atendi o telefone fixo”, “Mãe, estou estudando na casa da Claudinha, para a prova de amanhã”, “Pai, vou chegar um pouquinho mais tarde porque estou na casa do Tiago, jogando videogame”, e por aí vai. Tudo isso é bom e mau ao mesmo tempo. Ou, pelo menos, tudo isso abrange várias características diferentes, que podem ser boas ou más, dependendo do ponto de vista de quem avalia. Li hoje que um sujeito, nos EUA, escreveu no Twitter (um site provedor de miniblogs, com informações de no máximo 140 caracteres - até o Barak Obama está lá) que estava viajando, e aí quando voltou viu que sua casa fôra assaltada. Coincidência? Talvez, mas fica sempre a desconfiança: e se alguém se valeu dessa informação para tirar um proveito ilícito? Tudo é possível. Porque a pergunta que o Twitter faz é: o que você está fazendo agora? Então a tendência é colocarmos as situações prosaicas do nosso cotidiano, e aí caímos na armadilha de informar mais do que devemos. E as informações sobre dados pessoais em sites como o Orkut? Também pode ser um problema sério, principalmente se de um lado estiver uma criança ingênua, indefesa e, principalmente, filha de pais desatentos. E por aí vai. Tecnologia é ótima e, quer queiramos ou não, é inevitável. Na categoria dos gadgets, também li sobre o aperfeiçoamento das telinhas portáteis para leitura de livros e jornais. Se eu não me engano a Amazon está lançando um aparelho novo, maior do que aqueles apresentados até agora, para ficar mais próximo do tamanho dos livros e jornais feitos de papel. Acessamos apenas o que nos interessa, fazemos downloads (ou não), lemos e descartamos (ou não). Qual a quantidade de madeira que deixará de ser derrubada, para gerar a celulose, que se transformará no papel? Como isso refletirá na questão da sustentabilidade (termo muito em voga), para o meio ambiente, para a nossa qualidade de vida? Aliás, faz anos que ouço os gurus da modernidade tecnológica propagarem aos quatro ventos que em breve não manipularemos mais papéis. Mas, por enquanto, não consigo ver uma diminuição significativa na quantidade de papéis que nos rodeiam, principalmente nos escritórios. Não posso deixar de sentir um certo desconforto com essa situação. Pensar que não teremos futuramente um livro tradicional, de papel, para checarmos com os nossos sentidos: tato, visão, olfato. E como ficarão as bibliotecas, as livrarias? Para mim, não é exatamente um exercício de prazer imaginar esse futuro um tanto incerto. Mas a tecnologia acaba por nos atropelar, e se não nos cuidarmos, se não prestarmos atenção nos avanços benvindos que essa parafernália trará, ficaremos condenados a figurarmos como peças de museu, arcaicos e ultrapassados, resmungando pelos cantos: "no meu tempo..." Mas a soma de computador com internet é que deu na possibilidade de poder fazer coisas como este blog, e através dele é que: Nos falamos.

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