quinta-feira, 2 de julho de 2009

Artigo Indefinido – Ano 1 – Nº 40

Folheando uma revista que recebi no escritório, voltada para o setor automotivo (o nome da revista me escapa agora, e estou em casa, não tendo como consultar; a falha vai seguir: talvez em outra crônica, tendo a revista em mãos, citarei o nome correto), vi uma crônica (também não me lembro o nome do autor; sei que quase no fim da revista havia uma outra crônica, escrita pelo Delfim Netto, que fiquei de ler depois) que falava de uma questão crucial na vida de qualquer pessoa: educação. Lá pelas tantas, o autor dessa crônica informa que apenas 10% das pessoas gostam de estudar (ou se interessam por), restando 90% que simplesmente não gostam. Mas ele não informa de onde tirou essa informação, não diz a fonte de onde vieram esses números, o que é uma falha considerável. De qualquer forma, a informação está lá, e eu resolvi assumir que são dados – digamos – confiáveis. Isso significa que uma esmagadora maioria só estuda por obrigação, sem prazer ou interesse. O que é uma pena, convenhamos. É claro que uma parcela da população se sujeita às agruras dos estudos para alcançar objetivos profissionais, o que resulta em alguma coisa como retorno financeiro, estabilidade, progresso, etc. Objetivos louváveis, sem sombra de dúvida. Mas aí estamos falando de atividades estanques, ou seja, o pensamento básico está formulado pressupondo que o estudo é uma etapa a ser vencida, mas que não deve ter continuidade na sequência profissional (o Word teima em colocar o trema em “sequência”, mesmo contra a minha vontade!). E aí repousa um erro sério e significativo: o estudo é uma atividade continuada, não estanque. E o autor da crônica daquela revista vai mais longe: diz que muitas atividades, mesmo aquelas que não são consideradas exatamente como culturais (como ler um gibi, por exemplo) também contribuem para a educação, na medida em que trazem novos componentes do saber, que vão se incorporando ao nosso lastro cultural (que eu citei no último Artigo Indefinido, o de número 39). Como diria Prof. Pasquale Cipro Neto, sempre que encerra suas falas: é isso. E não há país que seja considerado como desenvolvido, que não tenha investido pesadamente em educação, seja por via institucional, seja pela via privada. Minha memória pode estar me traindo, mas acho que já mencionei anteriormente que a Coréia do Sul é um bom exemplo. Na década de 1960 esse país estava atrás do Brasil, quando se comparavam índices educacionais, de desenvolvimento, de renda per capita. Houve desde então um forte comprometimento da sociedade coreana para que um plano educacional de longo prazo fosse implementado e levado a cabo. Um plano pesado, extenso e inclusivo. Uma política educacional para ser cumprida ao longo de vinte anos. Para isso reforçaram a qualidade do ensino, buscaram cérebros privilegiados no exterior, aumentaram as horas de permanência dos alunos nas escolas, e por aí afora. A Coréia do Sul acabou cumprindo uma trajetória parecida com a do Japão. Eu me lembro, na época da minha adolescência, e mesmo no início da idade adulta, que os produtos Made in Japan eram desprezados, por se tratarem, via de regra, de cópias (às vezes muito mal feitas) de produtos de melhor qualidade produzidos em paises mais desenvolvidos. Com o tempo isso foi sumindo, até desaparecer por completo. Hoje os produtos japoneses têm uma chancela automática de qualidade. A Coréia do Sul, ao implementar um esforço redobrado na educação, seguiu pelo mesmo caminho. Depois da abertura do mercado brasileiro promovida (atabalhoadamente) pelo ex-Presidente Collor, recebemos produtos do mundo inteiro, incluindo da Coréia do Sul. Havia os carros coreanos, por exemplo, que não primavam exatamente por qualidades estéticas ou mecânicas. E hoje, como estão os carros coreanos (inclusive sendo das mesmas marcas de então)? Seguramente não foi o mercado brasileiro que mudou, mas sim a qualidade do produto que vem de lá. E como isso aconteceu? Foi apenas e tão somente resultado de investimentos nas indústrias? É claro que não. Por trás de tudo isso está a sólida formação educacional. E isso sem falar que a Coréia do Sul não só ultrapassou o Brasil, nos comparativos de índices de desenvolvimento, como nos deixou comendo poeira. Mas, ao mesmo tempo, quando faço essas constatações (e ao mesmo tempo me desanimo, ao lembrar dos percentuais da crônica que citei lá no início), vejo que cada vez mais a nossa sociedade está se conscientizando da importância da educação continuada. Afinal, há como um advogado parar de aprender? Ou um administrador? Um economista? Conversei com um mecânico de bairro, dono de uma oficina onde cabem quatro ou cinco carros, e ele me disse que não tem como não estudar, senão ele fica para trás, já que os veículos evoluem significativamente (e rapidamente) com o passar do tempo. Estudar, aprender, praticar e continuar: um bom lema para um país como o nosso, que precisa urgentemente voltar os olhos para o combalido, desigual e capenga sistema educacional. Nos falamos.

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