quinta-feira, 30 de julho de 2009

Artigo Indefinido – Ano 1 – Nº 44

Na edição 443, Ano 37, Agosto/2009, da revista Planeta, há uma matéria chamada “Quando a ciência perde o rumo”, baseada no livro do jornalista norte-americano Michael Brooks: “13 coisas que não têm sentido” (Editora Profile Books). Entre as questões que o livro levanta há o “efeito placebo”, com a seguinte pergunta: é ou não é uma farsa? Já foram feitas inúmeras pesquisas a respeito dos remédios que contém apenas substâncias inofensivas, como açúcar ou farinha, e que portanto não deveriam provocar qualquer reação naqueles que os ingerissem. Esses remédios são os tais placebos: parecem de verdade (tamanho, formato, cor, embalagem), mas não contém as substâncias químicas que poderiam interferir no organismo de qualquer pessoa, provocando curas ou amenizando problemas de saúde. No entanto o placebo acaba por provocar resultados positivos em quem o ingere, ressaltando-se que, nesses casos, a pessoa não sabe que ingeriu um falso medicamento. Já li sobre testes em que pessoas que sofriam de dor de cabeça foram divididas em dois grupos: para um grupo foi ministrado o medicamento real e para o outro o placebo. Os resultados de índices de melhoras foram semelhantes, havendo até circunstâncias em que o placebo superou os resultados obtidos com os comprimidos de remédios verdadeiros. Mesmo quando os dois grupos sabiam de antemão que um deles receberia o placebo, só que sem saber qual grupo seria, os resultados foram surpreendentemente semelhantes com os casos em que ninguém sabia, em ambos os grupos, que alguém receberia medicamentos falsos. Claro que isso não funciona quanto à prevenção de gravidez, por exemplo. Aliás, ficou famoso aqui no Brasil o caso das mulheres que compraram em farmácias o medicamento anticoncepcional que sempre tomaram (marca comum a todas as envolvidas), e que acabaram engravidando, porque, por engano de uma indústria farmacêutica (não me lembro qual foi), os medicamentos continham apenas farinha. Não era o caso, claro, de placebo, porque não haveria razão para se fazer testes com esse tipo de produto. Acho realmente muito difícil que uma mulher se convença que o medicamento que está tomando vai evitar uma gravidez, desconhecendo que se trata de um medicamento falso, e que isso efetivamente aconteça. Lembro que a alegação da empresa responsável pela fabricação foi que venderam por engano cartelas de pílulas que serviram apenas para testes de embalagens, ou coisa semelhante. De qualquer forma, isso gerou uma confusão considerável, incluindo processos na justiça, com ganhos de causas, recursos, e por aí afora. Mas voltando à revista Planeta, e ao livro: porque a pergunta sobre ser ou não ser uma farsa a questão do placebo? Já sabemos que se uma pessoa tomar um medicamento falso, sem saber que é falso, poderá vir a obter resultados semelhantes aos que teria se tomasse um medicamento verdadeiro. Mas acontece que também já foi verificado, através de pesquisas, que o efeito placebo funciona até mesmo quando o paciente tem consciência do engano. Ou seja, ele sabe que é um placebo, mas como o médico receitou regularmente e informou que haveria um resultado positivo, o paciente se convence e seu organismo reage no sentido de provocar uma melhora, do mesmo modo que faria se estivesse recebendo um medicamento verdadeiro. Por outro lado, já foram constatadas também situações em que o paciente não apresentava melhoras, porque não teve consciência de estar sendo medicado, apesar de receber um medicamento verdadeiro. Por exemplo: um paciente está recebendo soro na veia, e o médico não lhe informa que também, junto com o soro, está ministrando um outro medicamento, para provocar uma melhora específica. E aí, em alguns casos, o paciente não melhora. Então, a pergunta que se faz é: o efeito placebo se baseia num engano ou num mecanismo químico que pode ser manipulado? Será que, sem o remédio, mas munidos apenas da nossa convicção na cura ou melhora, não teríamos como “convencer” nosso próprio organismo a tomar as medidas necessárias para provocar um resultado positivo? Até que ponto nosso cérebro tem domínio sobre o nosso corpo? É interessante notar que após tantos anos de evolução, tantos estudos feitos, tantas pesquisas, tanto empenho, ainda estamos em dúvida sobre o real alcance da capacidade do nosso cérebro (e da sofisticada e complexa relação que ele mantém com o resto do nosso corpo). Já diziam os antigos: “mens sana in corpore sano”. Ou seja, mente sã em um corpo são. Nos falamos.

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