quinta-feira, 9 de abril de 2009

Artigo Indefinido – Ano 1 – Nº 27

Edward Norton Lorenz foi um matemático e meteorologista norte-americano. Morreu em 16 de abril de 2008, faltando pouco mais de um mês para completar 90 anos de idade. Na Wikipédia é citada uma frase dele, que seria parte da autobiografia que ele havia começado a redigir: “Desde criança, sempre tive interesse pelos números e fascínio pelas mudanças do clima”. Ele ficou mundialmente conhecido por trabalhar com informações matemáticas complexas na década de 60, nos laboratórios do MIT (Massachusetts Institute of Technology), integradas posteriormente à Teoria do Caos, naquilo que ficou denominado como Efeito Borboleta. Ele construiu um modelo matemático para a forma como o ar se move na atmosfera, e concluiu que pequenas alterações nos valores iniciais das variáveis levavam a resultados muito divergentes. Por exemplo: ao analisar determinadas formações de nuvens sobre o oceano, conjugando essa informação com outros fatores importantes como direção e força dos ventos, correntes marinhas, e etc, ele chegava à conclusão que poderia cair uma tempestade sobre determinada região dos Estados Unidos; no entanto, percebendo pequenas variações nos dados iniciais, ao aplicar essas alterações no modelo matemático, chegava-se à conclusão que poderia haver um tornado em outra região dos Estados Unidos. Resumindo: pequeninas variações de dados no início = grandes alterações no final. Esse tipo de ocorrência levou à elaboração do Efeito Borboleta, que pode ser interpretado de duas maneiras: a primeira, mais prosaica, diz que os gráficos resultantes da aplicação das variáveis e suas alterações e conseqüências, resultariam em um desenho semelhante à forma de uma borboleta; e a segunda, alegoricamente, demonstra que o bater das asas de uma borboleta em uma parte do mundo pode resultar em uma catástrofe natural em outra parte do mundo. Esta segunda maneira é bem mais interessante que a primeira, daí ser conhecida largamente, em detrimento da primeira. Como se diz por aí: se a lenda é mais interessante que a verdade, que se divulgue a lenda! Lembrei desse raciocínio de causa e efeito ao escutar, há dois dias atrás, uma crônica do Arnaldo Jabor na rádio CBN, pela manhã. Dizia ele sobre uma palestra proferida pelo José Miguel Wisnik - músico, compositor, ensaísta, professor da Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo. Nessa palestra Wisnik disse que não teríamos hoje um líder como Barak Obama, se antes não houvesse existido Vinícius de Moraes. E porque ele disse isso? Porque o poetinha escreveu uma peça de teatro chamada Orfeu da Conceição. O enredo da peça foi inspirado na mitologia grega, na história de Orfeu e Eurídice, mas ambientando a história para os tempos atuais (década de 50), em uma favela do Rio de Janeiro, durante o Carnaval. Todos os atores eram negros. E aí houve uma adaptação para o cinema, resultando no filme Orfeu Negro, de produção ítalo-franco-brasileira, premiado com a Palma de Ouro em Cannes, com o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro (o Oscar e o Globo de Ouro foram para a França, porque o diretor do filme era francês). Aliás, costumo maltratar alegremente no sax a música-tema “Manhã de Carnaval”, também denominada “Black Orpheu”. Mas o caso é que a mãe do Barak Obama, uma branca norte-americana, falava muito desse filme ao filho. Numa ocasião, ele já adolescente, tiveram a oportunidade de ver o filme juntos, e aí o atual presidente norte-americano ficou surpreso ao ver a mãe tão emocionada. E Wisnik, na sua palestra, juntou causa e efeito: depois daquele filme é que a mãe de Obama foi para o Havaí, onde se casou com um negro originário do Quênia. Portanto, se Vinícius não tivesse escrito a peça, não teria havido o filme; sem o filme, talvez a mãe de Obama não tivesse sido influenciada pela questão dos negros, e aí não teríamos hoje esse presidente. Talvez não caracterize exatamente um Efeito Borboleta, porque estamos falando de relacionamentos humanos, e não de variáveis e modelos matemáticos. Mas que é tentador sobrepor uma coisa à outra, isso lá é! Afinal de contas, não era à toa que Vinícius apregoava aos quatro ventos ser “o branco mais preto do Brasil”. Quem poderia imaginar que efeito tudo isso teria tantos anos depois? Nos falamos.

Um comentário:

  1. Muito interessante! A Luciane (SJC) disse que adorou! Beijos!

    ResponderExcluir