quinta-feira, 9 de julho de 2009

Artigo Indefinido – Ano 1 – Nº 41

Nove de julho: feriado paulista. Não é uma coisa meio irônica? Ou, como diriam as pessoas mais conectadas, não com a nova ortografia, mas sim com a nova expressão coloquial da maltratada língua mater: Não é uma coisa “meia” irônica? Esse tipo de expressão (a segunda, não a primeira) sempre faz com que a gente pense, o que é muito positivo. O que será uma “meia” irônica? Dá para imaginar uma meia (aquela parte do vestuário que tem a função de vestir nossos pés, não a metade de alguma coisa), olhando para a gente e comentando, ironicamente: esse seu pé cheira sempre assim ou você andou enfiando o pé na jaca ultimamente? Aliás, “vestuário” me lembra uma pessoa que eu conheci que dizia “vestuário” quando queria dizer, na verdade, “vestiário”: “Sabe, faz muito tempo que não se faz uma reforma no vestuário da empresa”. Não, a pessoa não está se referindo à vestimenta dos funcionários, mas ao local em que eles trocam de roupa para trabalhar. De qualquer forma, ela (essa pessoa) pode ser considerada uma estudiosa da língua portuguesa, se comparada ao nível das pessoas que incluem comentários em chats de notícias dos sites Terra, Uol, Ig, etc. É a tal da Lei de Murphy: quando a gente lê um comentário que é um desabusado atentado terrorista contra as mais elementares regras do emprego da língua, logo em seguida outra pessoa dá uma rasteira na primeira e comete outro atentado, piorando o que já estava péssimo. E não costuma parar por aí: a coisa toda vai ladeira abaixo, até concluirmos que qualquer estatística sobre analfabetismo funcional sempre dará uma pálida ideia sobre a realidade reinante na terra brasilis. Claro que isso não é exclusividade nossa, já que vi estudos que apontam que nos EUA crianças que estão na quinta série do ensino fundamental não conseguem interpretar textos corretamente, ou então têm dificuldade para colocar no papel o que pensam, de maneira coerente e compreensível. Mas, voltando à questão original: a ironia está em que sempre foi divulgada a imagem de São Paulo, e por extensão dos paulistas, como sendo a locomotiva do país, um lugar para trabalhar e ganhar dinheiro. E aí o feriado de hoje só existe em São Paulo. O país inteiro entregado à labuta e São Paulo preso em um congestionamento, ou porque a primeira coisa que paulista faz em situações como essa é sair de São Paulo, e aí entopem as estradas de carros, ou porque alguma avenida principal está interditada para aqueles desfiles cívicos que devem ter ibope abaixo de zero. E é claro que haverá o alegre enforcamento da sexta-feira, criando uma ponte para o fim de semana. É o efeito Tiradentes: enforcar é com a gente mesmo. Nada de melindres com qualquer dia útil. Os quais, aliás, tem o sufixo “feira” justamente para indicar “trabalho”. Mais um aliás: que outro país você conhece que tem esses nomes para os dias da semana? Li que isso se deu, no nosso caso, porque os nomes originais (empregados largamente nos outros países latinos) têm caráter contrário à religião católica apostólica romana, porque supõem adoração/devoção a símbolos pagãos: astros celestes, como Marte, Vênus e por aí vai. Então, consideraram o Domingo como o primeiro dia da semana (mas mantendo seu caráter de dia de descanso), e aí nomearam os dias seguintes pela ordem numérica (mas como dias de trabalho). E eu não lembro porque Sábado e Domingo ficaram com esses nomes. Vou pesquisar. Mas não hoje ou amanhã, por causa do feriado e do enforcamento da sexta-feira. Fica para a próxima segunda-feira (em outras línguas: o dia da lua). Mas, quer saber? O que estava na minha cabeça era falar a respeito da FLIP (a Festa Literária de Paraty), destacando alguns fatos inusitados (como o Chico Buarque tendo que circular na cidade cercado de seguranças, ou então a curiosidade de o escritor português António Lobo Antunes, que originalmente foi psiquiatra, escrever seus livros à mão, em blocos de receituário médico, e outras coisas do gênero), mas a crônica tomou outro rumo, de maneira que esse assunto fica para uma próxima vez. Nos falamos.

Um comentário:

  1. Ah, tá! Então quem fala muito sou eu? O senhor vai prum lado, acaba em outro e sou eu quem fala demais??? Registro aqui meu protesto... FALAMOS (e pensamos) demais - os dois!! rs rs r... Beijos!!

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