quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Artigo Indefinido – Ano 1 – Nº 46

Muito interessante a matéria feita pelo Jerônimo Teixeira, publicada na Veja em sua edição de 12 de agosto, chamada “Por obra do acaso”, sobre o livro “O andar do bêbado”, escrito pelo físico americano Leonard Mlodinow (tradução de Diego Alfaro, editora Jorge Zahar). A matéria trata da questão das probabilidades, das estatísticas, dos acontecimentos que o acaso proporciona nas nossas vidas. Uma coisa que me chamou a atenção na matéria foi um problema apontado pelos usuários do tocador de música iPod, porque justamente eu havia detectado o mesmo “problema” no tocador de CDs do meu carro: ao optar pela forma “aleatória” de progressão das músicas, às vezes calhava de tocar duas músicas seguidas com o mesmo cantor, ou então três músicas mais semelhantes eram tocadas em sequência (por exemplo: Cássia Eller, Nando Reis e Cazuza). Então, apesar da escolha aleatória, parece que de vez em quando o aparelho desenvolve uma sequência não tão aleatória, mas sim mais racional, como se fosse estabelecido um play-list pré-definido. É claro que não é isso que acontece, objetivamente, porque o aparelho não tem essa capacidade de discernimento e seleção, mas chega a ser curiosa essa situação. No caso do iPod, os usuários chiaram, e a Apple acabou por alterar o sistema operacional do aparelho, de maneira que a função aleatória não seja estritamente aleatória (o sistema passa a impedir a repetição de cantor ou de música). Mas voltando às probabilidades e ao acaso: isso é muito bem aplicado na questão do esporte, notadamente para o futebol. Na matéria é dito, por exemplo, que uma final de copa do mundo está sujeita a vários elementos-surpresa, como erros de juízes, o mal estar de um craque importante, uma chuva inesperada, etc. Dessa maneira, cálculos probabilísticos indicam que, para que seja excluída qualquer forma de acaso, e para que se saiba definitivamente qual é o melhor time, o ideal seria que a disputa se desse em pelo menos 250 partidas. Por essa razão, deduzo eu, é que o campeonato por pontos corridos é mais justo do que aqueles com partidas finais: porque assim o melhor time, ao longo do campeonato, é quem levanta a taça, diminuindo sensivelmente a influência do acaso. Reproduzo uma outra parte da matéria: “Em todos os esportes profissionais, o técnico de um time costuma ser responsabilizado quando amarga várias derrotas sucessivas. É comum que ele seja demitido e substituído por outro. Economistas já fizeram análises rigorosas dos resultados obtidos por equipes que mudaram de técnico e chegaram a uma conclusão que surpreende torcedores e cartolas: a mudança não faz diferença, porque, com perdão do trocadilho, há muitas outras coisas em jogo”. Essas “outras coisas” são fatores que tanto podem ocorrer dentro de campo, como podem ser o que se chama de extra-campo, e que podem influenciar no desempenho de um time negativamente, fugindo ao controle dos técnicos. Tudo isso também pode ser aplicado para a eterna discussão do fator “jogo em casa”, ou “mando de jogo”. Afinal, isso influencia ou não? Nesse caso, o mais interessante é avaliar uma larga faixa de dados (por exemplo: os últimos vinte anos de campeonato brasileiro), para se ter uma idéia quanto ao comportamento do resultado da partida. Mas isso não significa que um jogo futuro pode ter um resultado positivo apenas por conta dessa estatística, porque isso seria a aplicação no futuro de um dado do passado, desconsiderando-se todos os fatores do acaso. Talvez, na média estatística, o que vai se encontrar (eu não sei o resultado dessa apuração) seja uma tendência a que o time da casa se saia melhor. Mas sabe como é estatística: um sujeito morre afogado em um rio que em um determinado trecho (onde ele morreu) tem 4 metros de profundidade, mas que, na média, tem 50 centímetros; aí não se pode simplesmente dizer que ele morreu em um rio que tem 50 centímetros de profundidade, porque não podemos usar a média como característica geral. Ou então, ao saber que um brasileiro come dois bifes no almoço, e outro não come nenhum, anunciar que o brasileiro médio come um bife por refeição, porque essa seria a média. Da mesma forma como não podemos dizer que os números não mentem: os números nem mentem, nem falam a verdade. Nós somos aqueles que mentimos ou falamos verdades através dos números. Nos falamos.

Um comentário:

  1. Olá Adalberto, convido-o a dar uma olhada na resenha que escrevi sobre "O andar do bêbado", do Leonard Mlodinow.

    Está em: http://rodolfo.typepad.com/no_posso_evitar/2009/01/the-drunkards-walk-leonard-mlodinow.html

    Espero que goste! Atenciosamente,
    Rodolfo Araújo.

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