quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Artigo Indefinido – Ano 1 – Nº 14
Você sabe o que é “patronímico”? De acordo com o Dicionário Aurélio Básico da língua Portuguesa, que já está desatualizado: “Adj. 1. Relativo a pai, especialmente quanto a nomes de família. 2. Diz-se do sobrenome derivado do nome do pai ou de um antecessor. = S. m. 3. Sobrenome derivado do nome do pai: Rodrigues (filho de Rodrigo); Dias (filho de Dídaco); Atrida (filho de Atreu). 4. P. ext. Neol. Nome designativo de uma linhagem: Antoninos (dinastia romana); Braganças (dinastia portuguesa).” Essa palavra aparece na única nota de rodapé da matéria intitulada “A grande Ilusão”, escrita pelo João Moreira Salles para a revista piauí (assim mesmo, com letras minúsculas) de número 28, editada neste mês de Janeiro. Essa matéria discorre detalhadamente o que ocorreu recentemente com a economia da Islândia, um país situado no Atlântico Norte (na verdade, uma ilha isolada no oceano), ao noroeste da Europa, em direção da Groelândia, com uma população bem pequena, de cerca de trezentas mil pessoas, e com algumas características interessantes. Uma delas é que o país é considerado como parte da Europa, mas poderia também ser considerado como parte da América do Norte, por sua posição meridiana entre os dois continentes. Outra delas é que essa população descende diretamente dos vickings, que por lá aportaram no século IX (a Wikipédia informa que antes chegaram lá os monges irlandeses eremitas, mas estes partiram com a chegada dos nórdicos), de maneira que podem-se traçar árvores genealógicas bem grandes, remontando a muitas gerações passadas, com certa facilidade. Isso ocorre porque nunca houve qualquer interesse em populações de outros países de emigrarem para lá, de maneira que não há esse caldeirão de raças tão encontradiço por estas plagas. Esse desinteresse decorre principalmente do isolamento do país, pela economia voltada esmagadoramente para atividades vinculadas à pesca (até o final da década de 1990, quando ocorreram mudanças radicais, que levaram o país em cerca de dez anos da sua condição de nulidade econômica para uma outra condição diametralmente oposta, de potência financeira, e no fim, de outubro de 2008 para cá, para a bancarrota, a falência, a quebradeira generalizada), pelas extensas terras inóspitas (cerca de três quartos da ilha não possui vegetação), etc. Outra característica é que os sobrenomes são proibidos, a não ser em casos muito particulares. Aí é que entra o tal “patronímico” e a explicação no rodapé. A segunda parte do nome dos islandeses representa de quem a pessoa descende. Por exemplo: em vez de Adalberto Nogueira, lá meu nome seria algo como Adalberto Filho do José. Por esse motivo, as listas telefônicas naquele país são ordenadas pelos prenomes. A matéria da piauí informa que manteve o nosso hábito de citar o sobrenome (quando um jornal brasileiro fala sobre, por exemplo, o presidente do Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles, primeiro o texto menciona o nome inteiro, mas no desenrolar da matéria se atém apenas ao sobrenome), mas que isso, para quem é da Islândia, não tem muito sentido, porque estaríamos apenas nos referindo à pessoa de quem a pessoa é filho ou filha, e não à pessoa em si, o que só pode ser compreendido se usarmos o prenome. Esta última característica me remeteu às histórias contadas por meu pai, que dizia que no sul de Minas Gerais era comum esse comportamento (desprezar o sobrenome familiar e colocar junto ao prenome o nome do pai ou da mãe; e grande parte das vezes era usado o nome da mãe). Então José Nogueira passava a ser o Zé da Ana. Podia haver o João da Inácia, o Pedro da Maria, e assim por diante. Claro que não oficialmente, como no caso da Islândia, mas sim impregnando as relações informais, o que ajudava a aproximar e identificar melhor as pessoas. “Quem foi o menino que quebrou essa vidraça? Foi o Zé? Mas qual Zé? Ah, bom, o Zé da Chica! Sei quem é esse pestinha!” Imagino até, sem qualquer conhecimento específico, que muita confusão deve ter ocorrido por aqueles rincões, nas épocas mais antigas, quando alguém ia ser registrado no cartório civil (isso quando ia) e o pai se atrapalhava com as linhagens familiares. As árvores genealógicas no Brasil devem ter desenhos consideravelmente abstratos, com galhos tortos, galhos quebrados, galhos que sumiram, e assim por diante. Nem Sherlock Holmes desvendaria esses mistérios. E isso não é nada elementar, caro Watson (filho do Wat?). Nos falamos.
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