quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Artigo Indefinido – Ano 1 – Nº 16
“A Altria, fabricante do cigarro Marlboro, informou ter completado a aquisição da UST, que faz fumo de mascar e rapé, por US$ 10,4 bilhões”. Essa curta nota financeira foi publicada em 07/01/09 na parte Internacional da coluna “What’s News”, do Jornal Valor Econômico. Então, vejamos: uma empresa que fabrica fumo de mascar e rapé vale US$ 10,4 bilhões? Dei uma olhada na internet: na verdade a UST é composta de duas divisões principais, e uma delas é a que fabrica o que eles chamam de smokeless tobacco (a outra opera com vinhos). Entre as marcas mais conhecidas no mercado americano estão Copenhagen, Skoal, Red Seal, Rooster e Husky, todas apresentadas em simpáticas latinhas, semelhantes àquelas das pastilhas Valda (informação válida apenas para aqueles que se lembram; não sei se ainda são comercializadas dessa forma; eram muito úteis para guardar pequenos badulaques como botões, alfinetes, anzóis, etc.). Engraçado, nessa história, é que assim que vi essa matéria no jornal, li também a matéria sobre a Islândia (na revista piauí), que serviu de base para um Artigo Indefinido anterior. E uma pessoa retratada na matéria da revista cheirava rapé. Na Islândia! Mas afinal, quem são esses vorazes consumidores de fumo de mascar e rapé? Vorazes, sim, porque afinal consomem um volume tal dessas – hã! – mercadorias que justificam esse valor exorbitante pago na compra da companhia inteira. Primeira reação: não conheço ninguém que consuma esses produtos, aqui no nosso terreiro tupiniquim. Segunda reação: lembranças de tempos (há muito) idos, só realmente conhecidos através da leitura de livros da época (segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX). Consequência (sem trema) da Segunda reação: um sorriso brota no rosto ao lembrar da descoberta (nos textos dos tais livros com histórias antigas), ainda criança, do termo utilizado para designar as pequenas e portáteis caixas para carregar rapé, hoje (ainda) um palavrão da pesada (é a designação chula para o órgão sexual feminino). Dizem que o rapé era (ainda deve ser) viciante, apesar do efeito ingênuo e até mesmo prosaico. O sujeito, o tal viciado, saca do bolsinho interno do paletó a caixinha de nome impublicável, abre e retira um pequenina porção, pinçando com a união do polegar e do indicador. Daí pressiona o pó (com o indicador) contra uma das narinas e – voilá – espirra. Só isso. Como será a conexão entre a função da caixinha e o palavrão atual? Ou não há conexão, restando apenas uma coincidência inexplicável de palavras iguais na grafia, mas diferentes no sentido? E o mascador de fumo? Onde está esse sujeito? Ou essa sujeita, claro, porque o produto deve ser unissex. Ao mesmo tempo leio na Veja que uma das razões mais explícitas para os EUA serem a potência que são, pode ser constatado pelo número de patentes que eles requerem nos três principais escritórios internacionais de registro de patentes: acima de 16.000. O Japão, em honroso segundo lugar, aparece com 15.000 pedidos de patentes. No grupo chamado Bric, que reúne Brasil, Rússia, Índia e China, os números são desalentadores. A China tem média anual de 400 patentes, a Índia, 130 e o Brasil, na lanterninha, 60 (não vi menção sobre a Rússia, mas também não deve ser lá essas coisas). Que tal comparar 16.000 com 60? E aí, aquele país altamente tecnológico tem, por outro lado, uma empresa que fabrica fumo de mascar e rapé, nada mais anacrônico e paradoxal. Claro que, para não perder o jeito de potência hegemônica, a empresa vale uma fábula impressionante. Pensei na aquisição da Aracruz pela Votorantim, ora em curso, dois gigantes que unidos vão formar a maior empresa do mundo em fabricação de celulose. Para adquirir vinte e oito vírgula alguma coisa da participação acionária da Aracruz, a Votorantim terá que desembolsar cerca de R$ 2,7 bilhões. Fazendo uma continha simples (se vinte e oito por cento valem R$ 2,7 bilhões, quanto vale o todo?), chegamos próximos a R$ 10 bilhões (arredondando). Estou em dúvida, neste instante, quanto à moeda: será US$ ou R$? Acho que é em R$. De qualquer forma, a Aracruz, em R$ ou em US$, vale menos do que a UST. Digerindo essas elocubrações, só o que posso fazer é parafrasear algum personagem dos livros antigos (após um solene espirro provocado por um rapé virtual, um e-rapé) e exclamar, espantado: Cáspite! Nos falamos.
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Quanto ao rapé, no alto dos meus cincoenta (na forma com "q" levaria um trema, que sou contra a retirada!) e uns, só uma vez tive contato! Ao pedir informações num boteco na periferia de Diadema/SP, o proprietário todo solícito, não conhecendo o que eu procurava, intimou a diversos frequentadores (arre!) que me ajudassem. No meio da conferência o botequeiro abriu uma latinha lustrosa e me ofereceu: "Pode cheirar que não é droga não, bichim!"
ResponderExcluirMe mostrou e, pra não me fazer de rogado, dei uma bela inalada, que ardeu até os brônquios.
Caprichei demais na aspiração, presumo. Nada me faria repetir tal experiência!
Quanto a valores, como dizia aquele político num programa humorístico, "Tudo é relativo".
Uma calça jeans de grife nacional custa mais que uma batedeira de bolo + um liquidificador (arre! de novo!) + uma cafeteira elétrica.
Cáspite!