quinta-feira, 14 de maio de 2009

Artigo Indefinido – Ano 1 – Nº 32

Talvez pela minha especialização em Finanças (após a graduação em Administração de Empresas), eu tenha uma certa queda pelos números. O que não deixa de ser um pouco contraditório, quando reafirmo continuamente minha paixão pelas letras – o que já foi, imagino, amplamente destacado nessa crônica semanal. Mas gosto dos números. E às vezes tenho certeza que chego muito perto dos sintomas do TOC (o famoso transtorno obsessivo compulsivo), quando desando a fazer contas das mais estapafúrdias. Não consigo evitar fazer conta, por exemplo, quando leio alguma coisa a respeito de alguém que já morreu, e aí vejo mencionado o ano de nascimento e o ano de morte do fulano (ou da fulana). Pronto: quantos anos ele (ou ela) viveu? Ou então olhar distraidamente para a placa de um veículo e então somar os números, como em numerologia, até sobrar apenas um dígito. A placa é, por exemplo, 9427. 9 mais 4 mais 2 mais 7 é igual a 22. 2 mais 2 é igual a 4. Pronto. Só isso. Faço a conta só pelo prazer de fazer a conta e chegar a um resultado qualquer que, no fim das contas (literalmente – perdoe o trocadilho), não significa nada para mim. Tenho o hábito também de marcar o tempo quando dirijo, seja em estradas, ou mesmo em trajetos pela cidade (de casa para o trabalho, por exemplo). Cheguei até a montar um pequeno conjunto de aulas de matemática, que ministrei (tacanhamente) para o pessoal da Corretora de Seguros Marraf. Para tanto, me fiei em parte nos conhecimentos que ainda mantinha, aliando a um pouco de pesquisa que fiz para recordar outro tanto de informações importantes. Na época li o livro “O último teorema de Fermat”, escrito por Simon Singh (tradução de Jorge Luiz Calife, Editora Record), que serviu de base para que eu elaborasse o que chamei (sem modéstia) de “aula magna” (uma aula prévia, inicial, traçando um panorama do que viria pela frente). Antes de começar essa primeira aula anotei a seguinte frase no flip chart: “Tudo é número”. Isso foi para chamar a atenção dos “alunos”, para que eu explicasse a importância dos números, voltando no tempo até Pitágoras, a quem é atribuída a autoria dessa frase (século VI a.C.). Entre outras (muitas) coisas, é de Pitágoras a idéia original sobre os números perfeitos, dos excessivos e dos deficientes. O número perfeito é aquele que é resultado da soma dos seus divisores. O número 6, por exemplo. Seus divisores são 1, 2 e 3. Somando 1 + 2 + 3, temos como resultado o próprio número 6. O 12 é excessivo (a soma dos seus divisores resulta em 16, maior do que ele próprio). Já o 10 é deficiente (a soma dos seus divisores resulta em 8, menor do que ele). À primeira vista isso tudo pode soar um pouco fantasioso. Afinal, onde está a ligação com a parte prática das nossas vidas? Bom, conceitos como esse formam a base da pirâmide do conhecimento. Sem eles não haveria como erigir o que está por cima. E, mesmo sem saber, os números estão incrustados em tudo o que nos cerca. Voltando ao número 6: a bíblia não diz que Deus fez o mundo em 6 dias e no sétimo descansou? O próximo número perfeito, depois do 6, é o 28. Pois bem, os antigos já tinham notado que a lua orbita ao redor do planeta terra a cada 28 dias. E assim por diante. Quem se lembra do número π (pi)? Esse número foi derivado, originalmente, da geometria dos círculos (a proporção entre a circunferência de um círculo e seu diâmetro), mas ele pode ser encontrado na natureza. Um professor (e geólogo) da Universidade de Cambridge calculou a relação entre o comprimento real de um rio (medindo-o por sua extensão natural, obedecendo ao seu traçado irregular) e o comprimento em linha reta, desde sua nascente até a sua foz. A proporção entre o comprimento real e a linha reta é aproximadamente o do número π, ou seja, cerca de 3,1416. E na música? Se pegarmos uma linha estendida e tensa (como a corda de um violão), e a tocarmos, ela irá vibrar e emitir um som, que pode ser uma nota musical. Se segurarmos essa linha exatamente no meio, separando 50% para cada lado, e fizermos vibrar um desses lados, teremos o mesmo som original, só que uma oitava acima. E por aí vai. Mas voltando ao livro que citei aqui: o subtítulo é “A história do enigma que confundiu as maiores mentes do mundo durante 358 anos”. Que tal? No ano de 1.637 o matemático francês Pierre de Fermat fez uma anotação em um livro de outro matemático, Diofante (chamado Aritmética), sobre um teorema que ele (Fermat) estabelecera. Sua anotação dizia simplesmente: “Eu descobri uma demonstração maravilhosa, mas a margem deste papel é muito estreita para contê-la”. A grande questão era provar matematicamente que o teorema era perfeito. E Fermat morreu antes de demonstrar se era perfeito ou não. E isso só foi esclarecido 358 anos depois, por um matemático inglês, Andrew Wiles, então professor de Princeton. O livro é muito interessante, mas é preciso um interesse razoável por matemática para poder desbravá-lo por inteiro. Não há como forçar a própria natureza. Cada um no seu quadrado! Nos falamos.

Um comentário:

  1. E não é que é? Eu, que não gosto da Dona Matemática, preciso dela pra bordar, pra cálculos na jardinagem... porcentagens para cozinhar... coisas que gosto! Daí que ela até que fica melhorzinha!! rsrs... bjs.......nos falamos.

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