quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Artigo Indefinido – Ano 1 – Nº 20
Na semana passada eu comentei aqui sobre a implantação, na cidade de São Paulo, do plano de inspeção veicular. Volto a frisar que se trata de uma iniciativa das mais louváveis, afinal o planeta está em um caminho perigoso, já há muito tempo sendo trilhado, de aumento desenfreado de fatores negativos para o aquecimento global, e para a degradação galopante do meio ambiente. Iniciativas globais, como o Protocolo de Kyoto, acabaram ficando como que em banho-maria, principalmente pelo comportamento dos Estados Unidos sob o comando do “já-vai-tarde” Sr. Bush. Falei a respeito da contratação da iniciativa privada para levar a cabo esse empreendimento (da inspeção veicular), e os obscuros caminhos que daí podem ter advindo, e também da questão do ano de fabricação dos veículos a serem inspecionados. Na matéria da Vejinha é perguntado se, então, os carros mais velhinhos (aqueles fabricados antes de 2003) poderão poluir à vontade. Aí vem outra explicação realmente surrealista. É dito que a Secretaria do Meio Ambiente “mantém uma van circulando pela cidade, equipada com máquina fotográfica, sensores infravermelhos e leitores de raios ultravioleta que detectam emissões de gases poluentes”. Imagino que ao volante dessa van ultra-equipada deve estar, no mínimo, o Batman, que não deve esquecer de portar também seu famoso cinto de utilidades, para combinar com a parafernália instrumental do distinto veículo. Aliás, acho que seria bem apropriado se essa van circulasse tendo como fundo sonoro a trilha do filme “Caça Fantasmas”, para combinar com o, digamos, espírito da coisa. E o nome da van poderia ser “Caça Fumaça”. E aí a reportagem nos informa que só no ano passado foram examinados 400.000 carros, “sem distinção do ano de fabricação”. Curioso: não soube que isso tenha ocorrido, nem muito menos conheço alguém que tenha tido seu carro vistoriado. E esse único veículo dotado das traquitanas de inspeção in loco terá a responsabilidade de observar os milhões de carros que compõem o trânsito diário dessa megalópole que é São Paulo? Então não se consegue sequer fazer com que os carros estejam em dia com seus compromissos que já existem, coisas banais como licenciamento e pagamento de multas, mas, forçando a espinha dorsal das irregularidades, conseguiremos, em um feito inédito para um país tão informal e carregado de desprezo pelas normas e leis, transformar essa balbúrdia poluidora em algo controlado? OK, mas eu gostaria de ser informado com frequencia (sem trema e sem circunflexo) a quantas anda o número de veículos inspecionados. Se eu não estou enganado, parece que não está havendo assim uma adesão em massa. Mas prossigamos: há também a questão do custo da tal inspeção, R$ 52,73. A prefeitura de São Paulo, imbuída de um espírito cívico da mais alta estirpe, disse que devolverá esse valor a cada proprietário que se submeter à avaliação (cujo veículo for devidamente aprovado, e após a quitação do licenciamento e de qualquer outra dívida que tiver com o município ou com o Detran). Certo. Mas isso traz antigos aromas de malfadados eventos, como os compulsórios sobre os combustíveis, o compulsório sobre o veículo 0 km, e por aí vai. Alguém se lembra dos desfechos? Outra coisa: numa urbe como essa, com sua enorme extensão geográfica, e pensando nos veículos que deverão ser inspecionados, o que você acha de termos à disposição 4 (quatro!) centros de atendimento, quando o que estava previsto eram 32? Estão prometendo inaugurar mais 9 até o fim do ano. Perfeito! Mas o que continua sem resposta são algumas outras questões espinhosas: porque na cidade de São Paulo as moradias continuam a invadir as áreas de mananciais, enquanto o governante do momento (qualquer momento) faz cara de paisagem, fingindo que isso não é com ele? Porque continuam os desmatamentos predatórios e criminosos na Amazônia, sem que os assoberbados governantes sequer deem um pio a respeito (a não ser, quando muito, para questionar os critérios de medição)? Quem serão as pessoas envolvidas nesses crimes? Serão os mesmos que constroem castelos e se garantem sob o amplo manto da impunidade que protege os parlamentares brasileiros? E os rios que cortam a cidade de São Paulo (Tietê, Pinheiros, Tamanduateí, etc.), fossas e esgotos a céu aberto, que consumiram bilhões de reais ao longo de muitos anos (e diversos governos) - dinheiro esse que normalmente vem de outros países - para despoluição; porque continuam podres e mortos? Voltando ao início da crônica da semana passada: os governantes são eleitos e no final das contas acabam fazendo o que bem entendem com seus mandatos. E nós ficamos por aqui, nos submetendo aos caprichos de cada um que entra para o governo (em qualquer esfera: municipal, estadual ou federal), como servos de antigos feudos, só admirando os castelos dos nossos senhores à distância e maldizendo a burocracia que teima em nos enredar. Nos falamos.
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nao estou entendendo onde eles querem chegar....uma vez que aqui(Londres)carros novos com ate 3 anos nao precisam de inspecao....pois nao causam problemas...e carros com mais de 3 anos todo ano tem de passar por inspecao,para poder continuar a trafegar nas ruas....e simples....e nao e barato!!!!
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